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Com que roupa que eu vou?



Tudo começou quando recebeu de uma amiga o convite para participar de um grande encontro só de mulheres. Mulheres da Sociedade que, como ela, fazem o diferencial nos grupos em que atuam. Pelo entusiasmo com que a amiga relatou os detalhes da festa, sem muito pensar, animou-se e tratou logo de confirmar presença.
No entanto, passados alguns dias, lembrou-se de que nem sequer havia comprado a senha da festa, mas nem se preocupou com isso, já que ainda teria tempo suficiente para adquiri-la, pois a mesma só aconteceria dali uns quinze dias.
Na semana seguinte ligou para a amiga que tinha lhe convidado, mas não obteve resposta. Já meio preocupada com o seu silêncio começou a perguntar às outras pessoas conhecidas se estavam sabendo do evento e se iriam, mas ninguém sabia nada a respeito.
Os desencontros foram acontecendo e chegou a semana em que a afamada festa aconteceria.
Depois de muita peleja, conseguiu falar com a amiga, que sem a senha em mão, sugeriu que a mesma fosse comprada na hora. Na portaria. Bastava, para isso, que a procurasse.
O dia “D” amanheceu belíssimo! Sentia-se feliz. Estava contando as horas e os minutos para o “Grande Encontro”.
Vez por outra, pegava-se imaginando como seria esse grande encontro só de mulheres. Com certeza, as conversas e o barulho iam ser grandes também!
Sem maiores informações, começou logo cedo a se questionar se seria um evento formal ou não. Definitivamente, ainda não sabia o que vestir. Isso a deixava preocupada.
Por um instante sentiu-se fútil por se abalar por tão pouco, ao mesmo tempo em que refletiu sobre o quanto é intrigante a vaidade feminina, que, aliás, remonta ao início dos tempos. Portanto, já faz parte do protótipo feminino ser assim.
Abriu as portas do seu guarda-roupa, verificou algumas opções, mas não conseguia decidir nada.
Curiosamente, observou que até então desconhecia por completo as outras pessoas que lá estariam, além, é claro, da sua amiga.
Mal conseguindo aquietar os ânimos, terminou por escolher uma saia e uma blusa, que achou conveniente para uma ocasião mais formal, colocou num primeiro plano e fechou a porta do armário.
Ainda com a mente fervilhando, deitou-se na cama, fechou os olhos e começou a refletir sobre como seria estar logo mais em meio a pessoas que nem tinha um contato mais próximo. Na verdade, contaria apenas com a amiga que, logicamente, como anfitriã de um grupo, estaria ocupada recepcionando os convidados. Ou seja, tinha que repensar a situação com urgência. Tentou novamente o contato com a amiga, a fim de saber se por ventura teria alguma amiga em comum no encontro, mas foi em vão.
Experiências passadas e aprendidas lhe diziam a todo o momento que algo não estava certo. A preocupação primeira devia ter sido nesse foco, ou seja, como é que se vai para uma festa sem ter laços mais fortes com as pessoas que lá estão?
Será que a ânsia por novos amigos não a estava deixando desatinada? Sempre esteve presente em eventos, mas com pessoas afins, amigas, parentes, nunca numa situação semelhante. Sentia-se meio que deslocada só em projetar tal situação.
Assim pensando, resolveu não se fazer presente na festa. Não dessa vez. Quem sabe em outra ocasião...
Depois se desculpará com a amiga, que, com certeza, compreenderá perfeitamente!
Sentindo-se mais aliviada, e sem mais conflitos a administrar, olhou-se no espelho, vestiu o seu melhor sorriso e prosseguiu na sua rotina.
Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 21/03/2016


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr