Virou moda, aqui na cidade, o atendimento médico acontecer por ordem de chegada. Isso significa horas a fio aguardando a sua vez. As pessoas, com maior tempo livre, costumam chegar bem cedo nas clínicas, gerando um aglomerado no início do atendimento que, particularmente, procuro sempre evitar.
No entanto, mesmo sabedora de toda essa novela, aqui e acolá, fico achando que vai ser diferente, daí madrugo também nesses locais.
Nessa segunda-feira não foi diferente. Cheguei cedo demais para o meu gosto!
A recepção da clínica estava fervilhando de pessoas com o mesmo intuito que eu: ser atendida o mais breve possível!
Precavida que sou, e diante dessa correria louca da vida, procuro não perder tempo, pois o meu, vale ouro! Assim sendo, gosto de ter sempre a mão, um bom livro para o meu entretenimento nas salas de espera.
Procurei não esquentar a cabeça. Escolhi um assento mais isolado, peguei o livro e tentei concentrar-me. Logo nos primeiros parágrafos percebi meu desinteresse pela leitura. Minha cabeça latejava na incerteza em poder cumprir um compromisso firmado para à tarde. A quantidade de pacientes na minha frente fazia-me acreditar que não seria atendida antes das 13h.
Chateada, fechei o livro e o guardei. Olhei para os lados em busca de alguém para jogar conversa fora.
Pasmem, fiquei assustada, estava numa ilha formada por pessoas meio que hipnotizadas pelo aparelho a sua frente que lhes roubava toda a atenção! Um olhar mais atento, mostrou-me que, quase a totalidade da sala estava na mesma situação. Apenas os mais idosos conservavam-se sem nada fazerem (e caladinhos), aguardando a atendente chamar pelo nome!
Impressionante! Cabeça baixada, mãos ocupadas em digitar rapidamente seus textos, eles diferenciavam-se apenas pela expressão facial. Uns sorriam, outros estavam sérios, alguns falando ao telefone, os mais jovens e ágeis, com o dedo indicador fazendo a tela rodar desenfreadamente, enfim, “cada um no seu quadrado”, como diz o ditado!
Fiquei pensativa recordando que, até um dia desses, era comum os exemplares de jornais e revistas serem disputados nesses locais. Sempre tive o cuidado de ter os meus a tiracolo, para evitar aborrecimentos. Hoje ninguém mais se importa com essa atividade. Assim que chegam logo vão solicitando a senha de Wi-fi, ou seja, comunicação via internet sem fio. Quando “plugados”, fecham as portas locais, e abrem as do mundo virtual!
A partir daí, a atendente tem que quase gritar os nomes dos pacientes, pois estão tão envolvidos que não ouvem!
Ainda espantada com o que via, puxei conversa com uma senhora, funcionária da clínica responsável em abastecer as garrafas de chá, café, água, descartáveis, etc. Pois entre as suas tarefas, ela também mantinha seu celular à postos.
Curiosa em saber a sua opinião, comentei:
- Incrível como hoje as pessoas ficam ligadas nos celulares e nem prestam atenção ao seu redor.
No que ela de pronto me disse:
- A senhora acredita que até o consumo de água, chá, café, tudo isso diminuiu depois desse “Zap Zap”?
O povo fica tão ligado que nem se lembra de ir ao banheiro. Uma coisa é certa, disse ela, aquela “zoada” de antigamente acabou, veja a senhora mesma: é um silêncio danado.
Realmente tive que concordar com ela. Não vi nem ouvi na sala conversas paralelas. Ninguém estava falando das suas dores, nem reclamando do governo, nem das greves nacionais e, por incrível que possa parecer, ninguém repassando a receita de um chazinho milagroso e, muito menos, receitando sem registro do CRM...
Infelizmente, estamos cada vez mais interagindo com o mundo e deixando de lado o nosso próximo mais próximo!
Com a mente voltada, para chamar a atenção de alguns valores que estamos perdendo, dia a dia, estou agora de frente para uma máquina, assim como muitos estavam hoje pela manhã naquela sala de espera. Se a minha intenção é superior, não sei... Só sei que a minha ação se equipara tanto quanto ao isolamento dos mesmos.
Poderia nesse momento estar trocando ideias a respeito do assunto de uma forma diferente. Quem sabe, com um cafezinho para aquecer os ânimos? No entanto, vou usar a internet e uma rede social, a qual faço parte, para divulgar minhas ideias...
Esse é o mundo em que vivemos! Tentar fazê-lo melhor é um dos muitos desejos que acalento...