I love you, blue e star...
Interessante como mesmo sem querer, uma coisa sempre nos leva a outra. Dia desses, estava eu vendo um vídeo-clip de uma banda estrangeira, e enquanto acompanhava o ritmo na base do la,ri,la,la, me lembrei de um fato ocorrido comigo há algum tempo atrás.
Enquanto supervisora de uma escola particular aqui da cidade fui convidada para atuar junto ao Ensino Médio. Diga-se de passagem, um trabalho difícil de conduzir a contento, haja vista, alguns professores se autodenominarem capazes, o suficiente para dispensarem a ajuda do supervisor ou coordenador escolar.
Tudo caminhava bem, até que chegou o final do bimestre em curso.
Por mais que eu pedisse aos professores a agilidade nas correções e preenchimento dos diários, alguns se atrasaram. Aguardei já meio impaciente receber os diários de classe do último retardatário, o professor de Língua Inglesa. Cansada da espera e já preocupada, pois a reunião com os pais para o repasse dos resultados já estava marcada, tentei entrar em contato com o mesmo; no entanto, o intento foi sem sucesso. Sim, porque alguns professores, eu via apenas um dia da semana. Era o caso dele. Desesperada, falei com a direção que se prontificou a resolver o problema o mais rápido possível.
No dia seguinte, muito simpático, o professor me procurou, e colocando em cima da minha escrivaninha um calhamaço de avaliações, foi logo dizendo:
- Pronto professora, aqui estão as minhas avaliações!
Sem entender o significado daquela ação, lhe perguntei:
- Como assim? O que eu tenho a ver com as suas avaliações? Preciso apenas dos seus diários de classe devidamente organizados, para que eu os possa corrigir.
Não sei se fui grosseira, mas ele quase se engasgou com a água que bebia, e apressado foi logo me dizendo que a outra Supervisora é quem fazia as correções das avaliações dos seus alunos.
Tranquilamente olhei bem nos olhos dele e perguntei:
- Professor, o meu embasamento da Língua Inglesa se resume a: I love you, blue e star, você acha suficiente para eu fazer a correção das suas avaliações? Se sim, pode deixar por aqui, que eu corrijo.
Engolindo a água mais devagar, ficou me olhando meio que estático. Aproveitei o ensejo e esclareci que, na instituição, cada um procurava dar conta do próprio trabalho, que por sua vez, estava relacionado a sua formação profissional, o que dificultava assumir outros compromissos em áreas diferentes das suas, portanto, infelizmente não tinha como ajudá-lo.
Reconhecendo que de fato a responsabilidade era totalmente dele, me pediu desculpas, colocou a papelada embaixo do braço e saiu desconfiado.
Sempre, ou melhor, quando eu o encontrava pelos corredores, brincava dizendo:
- I love you teacher!
Acrescentando com um sorriso:
- ¬“Aprendi mais uma palavrinha”!
Ele apenas sorria com minhas gaiatices...
Reconheci na ocasião, a necessidade de aprender um outro idioma, no entanto sabedora dos meus limites temporais, não via alternativa plausível.
Mas a verdade é essa, nem sempre estamos aptos a acompanhar ou se igualar no que diz respeito a conhecimentos alheios mais abrangentes. Estamos cada vez mais especialistas e focados apenas numa área de atuação. Cada um sabe o porquê dos seus limites. O mais importante no convívio com o próximo, é não apenas reconhecer os seus próprios, mas, acima de tudo, respeitar o dos outros, para que não haja constrangimentos.
Nada contra outros idiomas. Louvo até quem consegue aprender - mesmo depois dos vinte - uma segunda ou mais línguas, e fazer uso das mesmas quando necessário. Apenas quando necessário!
Reconheço até que a maior parte das músicas que eu ouço são estrangeiras, o que não quer dizer que eu saiba outros idiomas e nem deixe de apreciá-las por causa disso. Num primeiro momento, me deixo levar pela melodia, só depois procuro traduzir e comparar a letra com o sentimento passado na musicalidade em si. Quando não consigo acompanhar a letra, o meu “la ri la la” resolve.
Porque complicar a comunicação, quando muitos de nós – me incluo - não aprendemos direito nem a nossa língua pátria, e tão pouco fazemos o uso do mandarim?