Chegadas e partidas...
Na vida estamos sempre chegando ou partindo. Pensando melhor sobre o assunto, observo que nunca lidei muito bem com as ritualísticas de despedidas.
Em tais situações, mesmo buscando em meu limitado vocabulário sinônimos que as represente, ainda assim a sensação estranha da ausência se concretiza sempre.
Um sentimento de tristeza me abate de imediato, apagando temporariamente momentos vividos com tantas alegrias. Mas, na medida em que me despeço e vou me afastando, os sentimentos vão se aquietando devagar, e daí sim, as lembranças boas vão se chegando e, aos poucos, secando as lágrimas que insistem em transbordar!
Será assim com todo o mundo? Ou essa sensação dolorosa da alma resulta desse meu coração tão emotivo? Não sei...
A razão faz-me lembrar de que durante a vida estamos em constante mutação e sujeitos a muitos pontos de partida e de chegada. Bastando para isso, observar os sucessivos ciclos naturais a que estamos expostos e inclusos.
No entanto, confesso que, vários deles, passaram-me despercebidos. Nada, ou quase nada me lembro de traumas - se é que os tive –, nas mudanças de fases da infância, adolescência ou no início da vida adulta.
O mesmo não digo daqueles cuja interferência humana incide diretamente. Talvez e, principalmente, pelo fato de não saber lidar inteligentemente com eles, sofro as consequências.
Repassando na memória tais momentos, automaticamente, avalio aqueles que marcaram-me mais...
Aos nove anos mais ou menos, quando da mudança da minha família para um bairro distante, fez-me passar um período de três meses na casa da minha madrinha, para terminar os estudos do 4º ano primário. A cada início de semana sofria as dores da partida, bem como no final dela, a alegria da chegada à casa dos meus pais...
Outro grande momento se deu quando já casada e mãe de dois filhos, resolvi tentar a sorte em terras longínquas daquela em que nasci e me criei.
Essa despedida sem dúvida foi marcante na minha vida, pois à medida que o ônibus se distanciava na estrada que parecia sem fim, ia ficando para trás minhas referências de tudo aquilo que havia criado e vivido até então.
No entanto, a alegria receptiva – de todos na minha chegada – abrandou a tristeza acumulada durante a viagem e fortaleceu-me o suficiente para que eu chegasse até o que sou hoje...
Mas, a maior despedida sofrida por mim até esse instante, sem sombras de dúvida, foi à passagem da minha genitora para o oriente eterno.
Ainda não consegui assimilar a sua ausência na minha vida.
Voltar hoje aos lugares que estivemos juntas, causa-me desespero e muita tristeza!
Em cada visita periódica que faço aos meus familiares, que moram distantes, eu vivo momentos de alegria incontida nas semanas que antecedem a chegada, assim como sofro, também, antecipadamente quando se aproxima o momento da partida...
Já é tempo de aprender a deixar a vida seguir o seu curso natural, observando que é nela que acontecem os nossos pequenos e grandes encontros, assim como as incontáveis chegadas e despedidas.
Uma coisa é certa, em cada uma delas o meu abraço apertado nunca deixará de existir...