Quintais...
Enquanto olhava para as recentes reformas feitas no quintal da sua casa, uma pontinha de saudade a remeteu a um passado bem passado!
Lembrou-se dos velhos quintais a que teve acesso, espaços edílicos onde de um tudo se encontrava...
Olhou para a única árvore presente no seu quintal, e observou que, embora frondosa, a sua função era apenas de prover sombra no canteiro onde cultiva algumas plantinhas.
Novamente as recordações afloraram em sua mente, pois na sua infância, árvore tinha que dar frutos comestíveis e saborosos.
Como era bom depois das floradas, ficar apostando quem descobriria o primeiro fruto. E tem mais, não podia apontar a fruta com o dedo, pois segundo a “lenda”, criada pelos mais velhos, a fruta apontada não vingava, e lá vinham as broncas da sua mãe quando amanhecia uma delas ainda verde pelo chão. As que sobreviviam, eram conferidas quase que diariamente. A longa e ansiosa espera da maturação era sofrível.
Nos quintais, além de árvores frutíferas, também tinham os arbustos floridos que enfeitavam cada recanto, tinha também o canteiro das ervas, com as quais preparava-se os famosos e saborosos xaropes ou lambedores, a horta com os principais temperos- suspensa é claro, para evitar a invasão de animais não gratos, um cercadinho para as galinhas e o peru do natal, a mesinha onde se lavava a louça – pois na época não tinha pia para esse fim, o banho de cuia e tantas outras coisas que os deixavam tão especiais.
Ah, sem contar com os segredinhos que o tempo até ali, não conseguira apagar. Que segredinhos? Falar sozinha sempre fora algo muito corriqueiro na sua vida. Diante de algum problema a ser resolvido, além de buscar soluções internas, costuma até hoje, dialogar consigo mesma. Acredita que tudo fica mais claro e fácil de se resolver...
Quanto as brincadeiras de infância nos quintais...mesmo já com os seus dez anos de idade, recorda-se que além daquelas onde meninos e meninas juntos, desfrutavam alegremente do mesmo espaço, havia uma que considerava o seu passatempo preferido. Brincar de casinha embaixo do pé de limão, cuja copa fechada arrastava-se até o chão isolando-a do resto do quintal. Espaço sagrado onde cozinhava em latinhas de extrato de tomate. Fazia fogo escondida de sua mãe que nem sonhava com tal proeza da sua parte.
Para tanto, ajudava nos afazeres domésticos, fazendo tudo o mais rápido possível para sobrar tempo suficiente para as brincadeiras.
Nessa idade também já sonhava com namoricos, mas nunca chegou a realizá-los. Não até completar os seus dezoito anos. Enquanto isso, mais uma vez, no cenário do quintal, encenava os seus sonhos, brincando com bonecos feitos de espiga de milho.
A roseira que revestia a cerca que circundava o quintal, transformava-se numa casa de primeiro andar com escadas e tudo o mais. A espiga, magicamente era vista como uma bela jovem de cabelos ruivos a espera do seu príncipe encantado, subia e descia as escadas balançando a cabeleira, enquanto aguardava a sua chegada. Ele por sua vez, também era uma espiga com cabelos curtos. Vale salientar, que trocavam muitos beijos nos encontros.
Sempre gostou de pular corda, de brincar de amarelinha ou academia, de sonhar em balanços montados em árvores, de cantar- talvez reflexo de um sonho materno, pois sua mãe queria ter colocado o seu nome de “Ângela Maria”, por um descuido foi colocado um outro.
Adorava brincar de professora. Arrumava as cadeiras em filas e conseguia imaginar crianças ali sentadinhas a espera de ensinamentos. Travava longos diálogos com as mesmas. Falar sozinha sempre foi uma característica sua!
Bem próximo dela um beija-flor veio abastecer-se de néctar. Quase sem respirar, ficou bem quietinha observando o bater de asas daquele minúsculo pássaro, que tão rápido como chegou também partiu. Olhou novamente a sua volta, e gostou do seu quintal. Afinal, tudo tem seu tempo e espaço para acontecer.