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Quebra de paradigmas...


Embora consciente de que no universo tudo está num constante movimento de vir- a -ser, e que as mudanças ocorrem em nossas vidas, numa frequência bem maior do que a nossa capacidade de percepção possa conceber, ainda assim, abalou-se com as últimas notícias no seu ambiente de trabalho.
Segundo os comentários, a unidade estava em vias de encerrar as atividades, pois o momento requeria contenção de gastos. Assim sendo, um novo modelo econômico devia ser seguido, e mesmo ciente dos prejuízos do percurso, a ordem era prosseguir.
Por ironia do destino, ou quem sabe, o cósmico lhe preparando a alma para os dias vindouros, nas últimas semanas, ela esteve organizando os documentos da instituição, bem como o seu histórico que estava meio bagunçado.
Folheando ao acaso o álbum de fotos antigas, que registram os fatos desde a sua fundação em 1949, observou o quanto aquele espaço já havia favorecido a vida das pessoas que ali buscaram auxilio em algum momento da vida. Algumas, ainda residente no seu entorno. Sentiu um aperto no peito só em pensar que em breve, essa escola deixaria de ser um ponto de referência, a não ser na lembrança daqueles que frequentaram os seus bancos, ou de outros tantos, que de alguma forma dispensou o seu tempo trabalhando em prol da comunidade.
Para onde seguiriam aqueles arquivos? Sim, porque os demais, aqueles referentes a vida escolar dos alunos, estes ela já sabia o destino. Mas, o histórico, as fotos, quem os guardariam com tanto carinho? Quem divulgaria a sua história a partir daquele momento? Ficou em dúvida se entregaria na Paróquia ou na Cúria Diocesana.
Há tempos atrás, quando fora encaminhada para assumir uma vaga na instituição, não imaginou que se apegaria tanto ao ambiente e as pessoas que o compõe, ao ponto de sofrer hoje, com a tal notícia do seu fechamento.
Estava certa, de que concluiria o seu tempo de trabalho junto as pessoas que tanto quer bem. Já havia arquitetado mentalmente, que quando se aposentasse, continuaria na escola como voluntária. Hoje, no entanto, não sabe nem sequer, o rumo que seguirá.
Indignada, refletiu sobre a insensibilidade dos seus superiores e representantes políticos, que em momentos como estes, nem sequer se lembraram que as pessoas criam laços em seus ambientes de trabalho, como se fossem no seio da própria família. E, assim como é difícil presenciar a destruição de um lar, assim também não será fácil ver o encerramento das atividades daquela repartição.
Como socializar o assunto para os demais membros da comunidade? Como dizer que a partir daquele momento cada qual seguirá seu caminho, e que talvez se percam de vista nesse mundo agitado e desumano.
Como dizer aos pais que confiaram os seus filhos na responsabilidade daquela casa, garantindo assim um futuro melhor para os seus rebentos? Futuro que até então , vinha sendo acompanhando passo a passo.
Tudo isso causa uma angustia insuportável.
Com certeza, a ruptura dos laços, seria bem mais cruel para os adultos do que para os jovens e crianças. Estes logo se adaptariam as novas realidades. E em pouco tempo, só as lembranças ficariam, e depois nem estas.
Lembrou-se de alguns funcionários que aguardam a aposentadoria. Como seria complicado a essa altura da vida ter que se acomodar em outro estabelecimento, tendo que reiniciar novo processo de adaptação, quando na verdade já não possuem ânimo pra isso.
Com certeza haverá resistência por parte de alguns, os argumentos são inúmeros, mas pensando melhor, talvez seja esse o momento certo para um recomeço. Essa é a lei do universo. Evolução e Involução...Reinício...
Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 21/03/2016


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr