Textos


Eternos mutantes


Retomando aos poucos a minha rotina - após a virose -, voltei a dar pequenas caminhadas, mas, respeitando sempre os meus limites, pois ainda me incomodam as dores nas articulações dos pés.
Num ritmo mais lento, tenho tido o prazer de observar, mais atentamente, o meu entorno, e devido ao tempo que me ausentei, guardei na memória uma paisagem sofrida, que vinha secando dia a dia, devido à falta de chuvas.
Acreditem, estou pasma com o verde que recobre as laterais do meu caminho. As flores pequeninas - e de tipos diferentes - se multiplicaram, e o matiz está perfeito. Se bem que, não sei porque, mas existem mais flores silvestres amarelinhas do que de outra cor. Será um complô com a luz do sol? Será devido a alcalinidade ou o pH do solo? Não sei... Mistério da Mãe Natureza!
Falando da natureza... Em pouco tempo ela se refez! Bastaram umas poucas chuvas e o verde ganhou força, e junto a toda essa exuberância, os pequenos insetos festejam a fartura. Dentre eles, as borboletas, que são as minhas preferidas.
Nesse devaneio, peguei-me a cismar e relacionar minhas memórias aos fatos atuais. Busquei longe, nas minhas lembranças, e percebi que muitas mudanças foram acontecendo ao longo da minha vida, mas, de uma forma tão sutil, que só agora me apercebo delas.
Interessante como tendemos a gravar imagens no nosso intelecto, por indeterminados períodos de tempo e, mais fascinante ainda, é o momento em que a evocamos e comparamos com o real, tamanho é o susto sofrido!
Acredito ser mais fácil observar às mudanças em si, se estivermos longe do foco, do que o contrário, pois o processo acontece tão lentamente que, quando próximos, tornam-se imperceptível aos nossos olhos. Mesmo aquelas transformações que nos parecem repentinas diante do nosso pouco entendimento. Às vezes, para que aconteçam, na realidade, são necessários tempos infindos.
O curioso, em relação às mudanças, é que, a grosso modo, as percebemos nas paisagens, mas, na verdade, tudo ao nosso redor sofre mudanças contínuas, principalmente nós, enquanto seres humanos em evolução!
Mudamos paulatinamente os nossos hábitos alimentares. Hoje quanto mais natural, melhor!
Outra grande mudança, veio com as novas tecnologias. Deixamos de utilizar as máquinas de escrever, substituindo-as pelos computadores; os telefones com fio, por celulares; telegramas e cartas, pelos e-mails etc. Mesmo morando numa região quente, onde o sol impera nos trezentos e sessenta e cinco dias do ano, acompanhamos as modas europeias e do sul do nosso país, onde as quatro estações da natureza se fazem presentes. E assim vamos nos adaptando...
Considero as mudanças, como uma forma de romper com padrões, muitas vezes estigmatizado pelo hábito e, portanto, geradora de processos dolorosos, nem sempre bem visto ou quisto por nós.
Por exemplo: A preocupação em manter o nosso físico, nos padrões da moda nos levam a sujeição de dietas, nem sempre benéficas ao nosso organismo, mas as fazemos.
Assim sendo, fica claro que somos verdadeiros mutantes - de acordo com o momento vivido. Somos afetados diretamente pelo nosso jeito de conduzir a vida. Nossas emoções, nossos pensamentos e nosso bem-estar físico, determinam o nosso “Bio Ritmo”, que quando em equilíbrio, resultam uma vida perfeita, quando não, as nossas falhas de um jeito ou outro, tornam-se visíveis, afetando nossa qualidade de vida.
Outro fato que está se tornando corriqueiro na nossa cidade, é a demolição de antigos edifícios no centro da cidade. Prédios que por si só, são História, e hoje os vemos no chão. No entanto, as “mudanças” vão acontecendo em nome da modernidade, e das perspectivas de lucros. A cada nova situação desse tipo, é quase que automático, observar as pessoas pararem, e diante do desmanche, boquiabertas, buscarem na memória, um pouco da história que junto com os destroços vão se perdendo no tempo.
Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 19/05/2016


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr