Textos


Desmistificando o novo

 

 

 

Como vinha acontecendo, nas vésperas de uma nova etapa do curso, lá estava ela, aflita e ansiosa, numa expectativa angustiante em relação a nova disciplina e professor(a).

O pensamento foi e voltou para a “caixola”, o dia todo, não dando trégua nem condição de dar atenção às outras obrigações, também importantes.

Sempre fora assim, desde menina. Enquanto não resolvia o que lhe preocupava no momento, aquilo passava a ter, prioritariamente, dedicação exclusiva em sua mente. O receio era não dar conta do recado – o novo conteúdo do curso – a sua principal agonia.

“Intensidade”, esta era, sem dúvida, uma de suas mais marcantes característica. Tudo quanto vivera, até aquele momento, tinha sido assim forte, fosse no ritmo da dor ou da alegria.

Além de tudo, ainda estava preocupada com o tempo e os seus afazeres domésticos. O dia tinha sido pouco para tanto. Alinhavou e organizou o que foi possível e deixou, para o dia seguinte, algumas tarefas.

Tomou um banho rápido e partiu.

Depois de enfrentar o contrafluxo estressante do caminho até a escola, chegou enfim ao seu destino. Como sempre, fora a primeira a chegar. Acomodou-se na carteira – que já se tornara um hábito seu ocupá-la, bem lá no fundo da sala – não com o intuito de bagunça, mas com o receio dos questionamentos. Abriu aleatoriamente o caderno e começou a folheá-lo, olhando com mais detalhes alguns conteúdos ali registrados.

Percebendo ainda um certo nervosismo e tentando acalmar os ânimos, fechou os olhos e agradeceu a Deus o fato de poder voltar aos estudos; só restava, agora, aproveitar ao máximo a oportunidade concedida. Tudo ia dar certo!

Absorta em seus pensamentos, assustou-se, quando, de repente, um leve bater à porta quebrou a sua concentração. O coração disparou e, antes que se levantasse para abri-la, ou dissesse algo, ela se escancarou.

Boa noite!

Automaticamente retribuiu o cumprimento ao recém-chegado. No entanto, ficou tão atarantada que nem sequer se dispôs a ajudá-lo, pois ele vinha carregado de coisas…

Seria o novo professor?

Ficou estática, nem o olhar se mexia; nada via à sua frente.

Sim. Era o novo professor. Passados alguns instantes, conseguiu levantar timidamente o olhar e perceber que ele ajeitava os pertences na mesinha de apoio. Sua cabeça latejava, devido a pulsação forte desencadeada.

O coração, como uma bússola, rodava frenético em todas as direções, mas, rapidamente, apontou o norte; e, sem grande esforço, estabilizou-se.

Com o pensamento positivo, afirmava, a cada segundo, que esse professor também seria legal. Afinal, já havia concluído algumas disciplinas, sem grandes dificuldades.

Aos poucos foram chegando outros alunos, alguns já conhecidos dela e do professor, e tudo foi se ajeitando.

Com o olhar fixo no caderno, espreitava, pelo canto dos olhos, o ambiente da sala e captava, aqui e acolá, as conversas paralelas.

Só sossegou quando a amiga da sala chegou e tomou o assento que lhe havia reservado. Conversa vai, conversa vem, ficou sabendo que a disciplina era facílima e que o professor também era muito amigo.

Com o adiantar das horas e sem mais delongas, o novo professor deu início aos trabalhos, começando com a sua apresentação, e tudo foi ficando melhor.

Embora fadada a conviver com mais um “novo” na sua caminhada, percebeu que esse não seria tão dolorido assim.

O próximo… Meu nome é...

Vanda Jacinto
Enviado por Vanda Jacinto em 03/12/2022


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Imagem de cabeçalho: raneko/flickr