Tudo começou numa conversa informal com a minha filha, sobre a possibilidade de irmos passar o Natal e o Ano-Novo na Europa; para ser mais precisa, na Itália - país onde moram parentes do meu genro. Na ocasião, muitas ideias surgiram, mas tudo ficou sublimado até que ela retornasse ao Brasil (estava nos Estados Unidos) e tornasse a comentar sobre o assunto.
Após um balanço criterioso, resolvemos aceitar o convite. Três casais formariam a comitiva. Eu e o meu esposo Jacinto, minha filha e o seu esposo e os pais do meu genro. A animação tomou conta. Quis logo saber qual seria o nosso roteiro, claro, para me inteirar dos locais para visitações.
Quando tomei conhecimento da dimensão da viagem, vi a extensão de terras e lugares que visitaríamos, pensei se daria conta de tudo. Entretanto, como só se caminha dando o primeiro passo, apertei o cinto e comecei a me organizar.
Passaporte atualizado, passagens compradas, malas novas, reservas de hotéis, lavagens dos agasalhos - há muito esquecidos nos armários -, outros tantos adquiridos, calçados conferidos e assim foi acontecendo.
Finalmente o grande dia!
Tudo pronto para o primeiro embarque, malas com o devido peso, quase nada de bagagem de mão - apenas uma mochila com uma muda de roupa e objetos de higiene pessoal e pronto!
Com o foco no nosso primeiro destino, que era Portugal, partimos felizes.
Num primeiro momento nem percebemos o quanto era apertado o espaço destinado aos passageiros da “classe normal”. Todavia, passadas algumas horas de voo o desconforto - pela falta de mobilidade -, e o cansaço, começaram a pesar.
Chegamos a Portugal por volta das oito horas mais ou menos, já desejando que fosse o fim da jornada. Contudo, ainda faltava um bom tempo de viagem. Por sorte, nossos filhos já haviam programado um passeio belíssimo por Lisboa, até chegar o horário de partida para a Itália.
No percurso da aeronave até o saguão do aeroporto, percebi algo errado com a minha bota. Sem muito esforço, notei que o solado havia descolado, estando preso apenas na direção do pequeno salto. Pense num sufoco!
Continuei a caminhada, ignorando o ocorrido. A princípio, pensei que havia colado de novo, mas, na realidade, fez foi soltar de vez. Deixei por lá o meu salto. Ou seja, literalmente desci do salto.
Numa olhada rápida, descobrimos que não havia, no aeroporto, lojas sequer para comprar uma sandália. Assim, tivemos que escolher: ou íamos para o centro da cidade comprar um calçado ou faríamos o passeio. Lógico, optei pelo passeio.
Foi deveras agradável! Passamos momentos deliciosos às margens do Tejo. Fomos até a Torre de Belém - fortificação no estilo medieval belíssima, que remonta a data de 1514, como início de sua construção, e cuja influência foi do Rei D. Manuel - o Venturoso!
Caminhando com dificuldade, sabendo que a qualquer hora o que restou do solado – a palmilha, da bota, poderia se abrir em flor – e meu lindo pezinho tocaria a textura da calçada lusitana, seguimos pelo calçamento molhado até outro grande monumento. Este, em homenagem aos grandes navegadores, cujo tema é: “Padrão dos descobrimentos” tendo à frente, o Infante D. Henrique.
Mais um tempo de caminhada, enquanto observávamos gaivotas às margens do lindo rio, e resolvemos procurar um bom restaurante para almoçarmos. Degustamos um delicioso risoto de bacalhau, regado a vinho!
De volta ao aeroporto, não houve jeito: o que sobrou da bota não resistiu. Fui obrigada a calçar uma sandália do tipo Havaianas. Deixei por lá os restos mortais da minha famosa bota de viagem.
Resumindo: desembarquei em Roma (que no meu ideário era um luxo) de sandálias Havaianas e de meias nylon preta (que no meu ideário é uma palhaçada), ou quem sabe, despropositadamente, reforçando mais uma boa lição: a humildade!
De acordo com o ditado popular: quem tem boca vai (a) Roma. Para mim, quem usa Havaianas, também.