Estou escrevendo uma série de relatos sobre os dias que passei no Velho Continente. O primeiro deles versava sobre minha não tão refinada forma de chegar à Itália. Se não leu o texto, sugiro que o procure na edição de quinze dias atrás, do Jornal De Fato, leia-o, para assim poder entender o que estou querendo dizer. O início dos relatos tem uma sequência, mas tentarei fazê-los independentes um do outro, apesar de terem conexões (ai, meu Deus, olha só, eu ainda falando em conexões. Acho que fiquei muito tempo em aeroportos). Apesar dos inconvenientes, chegamos bem e fomos recepcionados por um gentil parente de meu genro – o Giuseppe - que, como todo bom italiano, mantinha no rosto um belo sorriso, o que nos deixava mais à vontade, mesmo sabedores de tê-lo tirado de sua rotina.
Não sei precisar a distância, mas me pareceu um longo caminho até sua residência, nessa nossa primeira parada na Itália. O carinho dispensado em nossa chegada foi o suficiente para ficarmos à vontade e esquecermos o cansaço. Eugênia, sua esposa, havia preparado um banquete: antepastos variados, pães, vinhos; enfim, tudo muito saboroso! A casa bem aquecida, e adornada com enfeites de Natal, acolhia-nos em um ambiente festivo.
Sem ainda saber dos costumes, com relação à ordem de servir as refeições, fomos conversando - se é que posso chamar de conversa o barulho, traduções e boas gargalhadas... Tudo isso enquanto beliscávamos, aqui e ali, até encher o pandu.
Lá pelas tantas, a dona da casa recolheu os pratos e passou a servir a pasta (a massa). Eu que nem tenho o hábito de jantar muito tarde, quase fui indelicada, mas, em tempo, foi-nos explicado que tanto no almoço como no jantar, a refeição é servida em cinco etapas: primeiro é servido o antepasto; na sequência, a pasta; depois a carne e a salada e; por último, a sobremesa.
Pense numa agonia de quem já havia se fartado na primeira etapa! Perguntei se poderia pular algumas etapas, mas a brincadeira rolou frouxa e tivemos que cumprir todo o ritual.
Cansados, após uma saga de vinte e quatro horas fora de casa, viajando, porém felizes, conseguimos dar boas gargalhadas, inclusive veio à tona a situação constrangedora da minha bota sem sola. Novas gargalhadas. De pronto, Eugênia me ofereceu uma sua para prosseguirmos viagem - sim, pois ainda rodaríamos mais uns oitenta quilômetros até chegarmos a Subiaco, local onde passaríamos a maior parte do nosso tempo por aquelas bandas.
Novamente nos agasalhamos, agradecemos a acolhida e lá fomos nós para o destino final daquela noite maravilhosa!
Não foi possível apreciarmos a paisagem, pois a noite fechada impedia-nos. Entretanto, as árvores à beira da estrada, já sem folhas, mostravam-nos um inverno reinante.
Assim que entramos em Subiaco, percebiam-se estradas mais estreitas e pequenos vilarejos.
Dentro do transporte as conversas eram ruidosas e as risadas constantes. Isso serviu para nos entreter e, num instante, o tempo passou.
Quando chegamos à casa onde ficaríamos alojados, isso já por volta de meia-noite, nova recepção: o carinho e o sorriso nos semblantes da Anna, do Jean Franco e a da tia Liliana, compensaram todos os atropelos e cansaços da viagem. A emoção misturava sorrisos com o choro diante da incredibilidade da nossa presença. Foi tudo muito gostoso!
Não bastasse toda a alegria e acolhimento, ao entrar na casa nos deparamos com um cafezinho quentinho e guloseimas mil.
Nessa noite fomos dormir bem tarde!
Antes de partir, Giuseppe nos lembrou de que no dia seguinte, muito cedo, viria nos pegar para nos levar de volta a Roma.
Precisávamos resolver algumas coisinhas, como colocar chip no celular e aproveitar para um rápido passeio na capital.
Mas essa já será outra história...